Planejamento Tributário com empresas distintas: quando é legal e válido segundo o CARF

Você já pensou em dividir as atividades da sua empresa em mais de uma empresa para facilitar a gestão e até reduzir a carga tributária?

Essa estratégia é chamada de segmentação de atividades ou planejamento tributário com empresas distintas. E a boa notícia: o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, acaba de confirmar que isso pode ser legal, desde que feito da forma certa.

O caso analisado

Uma empresa do setor atacadista decidiu separar sua área de transporte em uma nova empresa, com CNPJ e contabilidade próprios. Enquanto a matriz continuava vendendo produtos, a nova empresa passou a prestar os serviços de entrega. Isso trouxe eficiência operacional e economia de impostos, já que a transportadora usava o regime do Lucro Presumido, que em alguns casos é menos oneroso.

A Receita Federal, no entanto, alegou fraude e tentou cobrar mais de R$ 50 milhões em IRPJ e CSLL, além de multa de 150%.

O que decidiu o CARF?

O CARF entendeu que a segmentação não foi feita com intuito exclusivo de economizar tributos, mas sim por razões de eficiência operacional. Ou seja: cada empresa passou a se dedicar a uma função diferente e de forma independente.

O julgamento foi claro: não houve fraude nem abuso. E destacou que o empresário tem liberdade para organizar seus negócios da forma mais eficiente, desde que respeite a lei.

Veja um trecho importante da decisão:

“Não sendo o propósito negocial um requisito essencial e não se verificando qualquer ato dissimulado praticado pela Recorrente, entendo que a segregação operacional das atividades promovida foi legal, dentro da vasta possibilidade de se auto-organizar.”

Mas atenção: quando essa estratégia vira risco

A Receita Federal e o próprio CARF já deixaram claro em outras decisões que não basta apenas criar novas empresas no papel. É necessário que a separação de atividades seja real e tenha substância econômica.

A fiscalização costuma identificar como indícios de fraude situações em que:

  • As empresas compartilham as mesmas instalações físicas;
  • Os funcionários são os mesmos ou exercem funções para mais de uma empresa;
  • A nova empresa não atende clientes de fora do grupo;
  • Não há despesas operacionais condizentes com a atividade prestada;
  • Há confusão patrimonial ou ausência de controle financeiro separado.

Esses são sinais de que a separação foi feita apenas para pagar menos tributos, o que pode levar à desconsideração da estrutura e à aplicação de multas pesadas.

Boas práticas para evitar problemas

Para que a segmentação seja considerada legítima, é essencial que as empresas envolvidas:

  • Tenham personalidades jurídicas independentes;
  • Mantenham atividades distintas, reais e autônomas;
  • Prestem serviços a terceiros, e não apenas entre si;
  • Funcionem em endereços separados, com funcionários próprios;
  • Tenham contabilidade e estrutura administrativa independentes;
  • Façam contratos de prestação de serviços ou rateio de despesas formais e com critérios objetivos.

Ou seja: é preciso organizar a casa e manter tudo documentado.

 O que isso significa para você, empresário?

Significa que, com planejamento bem feito, é possível organizar suas empresas de forma mais eficiente e pagar menos tributos dentro da legalidade. Mas é preciso cuidado e transparência: a estrutura precisa funcionar de verdade.

Conclusão

Essa decisão do CARF é uma vitória para quem acredita na liberdade empresarial e no uso inteligente das regras fiscais. A chave está na efetiva autonomia das empresas e na legitimidade das atividades que cada uma exerce.

Se você está pensando em fazer uma reestruturação societária ou tributária, é essencial contar com assessoria jurídica especializada. Um planejamento bem estruturado pode gerar economia sem comprometer a segurança do negócio.

Gostou? Compartilhe!

Dr. Maurício Bianchi

Dr. Maurício Bianchi é professor, advogado, especialista em direito tributário e societário, mestre em direito. OAB/RS N.39.314

Continue lendo...

Você sabia que vender uma parte da sua empresa pode acabar gerando um imposto maior simplesmente por uma interpretação controversa da Receita Federal?  Neste...

Quando pensamos em distribuição de lucros entre sócios de uma empresa, a ideia mais comum é que cada um receba sua parte conforme sua...

A tão aguardada reforma tributária finalmente começou a sair do papel. Com ela, o PIS e a COFINS, dois tributos federais bastante conhecidos pelos...

Assessoria jurídica especializada para o aprimoramento empresarial.

Segurança jurídica empresarial com orientação especializada é o que protege e fortalece os negócios.

Escanear o código